Maior iceberg do mundo avança sobre ilha e ameaça área de preservação ambiental
A68 se descolou da Antártida há três anos e existe grande risco de que possa acabar ancorando na costa de paraíso de vida selvagem. Icebergs encalham ao redor de Geórgia do Sul com frequência BAS/Pete Bucktrout O maior iceberg do mundo, conhecido como A68, está em rota de colisão com o território ultramarino britânico da Geórgia do Sul. O gigante de gelo que se descolou da Antártida há três anos tem tamanho semelhante ao da ilha do Atlântico Sul, e há uma grande possibilidade de que o iceberg possa acabar encalhando na costa desse paraíso de vida selvagem. Se isso acontecer, será uma grave ameaça para a fauna local, especialmente pinguins e focas. Isso porque as rotas normais de forrageamento dos animais podem ser bloqueadas, impedindo-os de alimentar seus filhotes adequadamente. E nem é preciso dizer que todas as criaturas que vivem no fundo do mar acabariam mortas no local onde o A68 "atracar" — algo que levaria muito tempo para ser revertido. "Os ecossistemas podem e irão se recuperar, é claro, mas há o perigo de que, se esse iceberg ficar preso, possa permanecer lá por 10 anos", diz o professor Geraint Tarling do British Antarctic Survey (BAS), órgão responsável pelos assuntos relativos aos interesses do Reino Unido na Antártica. "E isso faria uma grande diferença, não apenas para o ecossistema da Geórgia do Sul, mas também para sua economia ", acrescenta. O A68 é muito extenso, mas tem apenas 200 metros de espessura (relativamente fino para um iceberg) Nasa/John Sonntag via BBC O território ultramarino britânico é uma espécie de cemitério dos maiores icebergs da Antártica. Esses gigantes se descolam vez ou outra do continente gelado em fortes correntes, e acabam na parte rasa da plataforma continental que circunda a ilha remota. O A68 — que tem a aparência de uma mão com um dedo para cima — tem andado neste "beco do iceberg" desde que se descolou da Antártica em meados de 2017. Agora está a apenas algumas centenas de quilômetros a sudoeste do território da Geórgia do Sul. Morte de animais Com uma área equivalente a quase três vezes a cidade de São Paulo, o iceberg pesa centenas de bilhões de toneladas. Mas sua espessura relativa (uma profundidade submersa de talvez 200 metros ou menos) significa que tem o potencial de flutuar até a costa da Geórgia do Sul antes de encalhar. "Um iceberg tem implicações enormes para onde predadores terrestres podem ser capazes de forragear", explica Tarling. "Quando falamos sobre pinguins e focas durante o período que é realmente crucial para esses animais — a criação de filhotes — a distância real que eles têm que percorrer para encontrar comida (peixe e krill) realmente importa. Se eles têm que fazer um grande desvio, significa que não vão voltar para seus filhos a tempo de evitar que morram de fome nesse ínterim. " Quando o colosso A38 aterrissou na Geórgia do Sul em 2004, inúmeros filhotes de pinguins e filhotes de foca mortos foram encontrados nas praias locais. Com calado de cerca de 200m, o A68 tem potencial para se prender na plataforma rasa ao redor da ilha O pesquisador do BAS está tentando organizar recursos para estudar A68 na Geórgia do Sul, caso o pior cenário se confirme e o iceberg alcance uma das principais áreas produtivas para a vida selvagem e a indústria pesqueira local. Os impactos potenciais são diversos — e nem todos negativos, enfatiza. Por exemplo, os icebergs trazem consigo enormes quantidades de poeira que fertilizarão o plâncton oceânico ao seu redor, e esse benefício irá então se espalhar pela cadeia alimentar. Embora as imagens de satélite sugiram que o A68 está em rota de colisão com a Geórgia do Sul, isso pode não acontecer. Tudo é possível, diz Peter Fretwell, especialista em mapeamento e sensoriamento remoto da BAS. "As correntes devem dar uma volta pelo que parece ser um estranho loop ao redor da extremidade sul da Geórgia do Sul, antes de girar ao longo da borda da plataforma continental e voltar para o noroeste. Mas é muito difícil dizer exatamente o que vai acontecer", acrescenta ele à BBC News. Colega de Fretwell na BAS, Andrew Fleming diz que uma solicitação foi feita à Agência Espacial Europeia para obter mais imagens de satélite, particularmente do sistema de radar Sentinel-1. Esses satélites trabalham em comprimentos de onda que lhes permitem ver através das nuvens, o que significa que podem rastrear o iceberg independentemente das condições climáticas. "O A68 é espetacular", diz Fleming. "A ideia de que ainda está em um grande pedaço é realmente notável, especialmente dadas as enormes fraturas que vemos passando por ele nas imagens de radar. Esperava que ele já tivesse se rompido agora", acrescenta. "Se ele girar em torno da Geórgia do Sul e seguir em direção ao norte, deve começar a se fragmentar. Ele entrará muito rapidamente em águas mais quentes e, especialmente, a ação das ondas começará a derretê-lo."
Notícia publicada em: G1.globo.com