Estudo vincula erupção de vulcão no Alasca a queda da República Romana


Atividade vulcânica gerou uma série de fenômenos observados no momento da queda de Júlio César, inclusive temperaturas mais baixas do que o normal e fome generalizada. Vulcão Okmok, no Alasca, lança nuvem de gases em julho de 2008 Handout / NASA / AFP O assassinato do governante Júlio César no ano 44 a. C. desencadeou uma luta pelo poder de quase duas décadas que levou à queda da República Romana e ao surgimento do Império Romano. Os registros históricos indicam que o período foi marcado por avistamentos estranhos no céu, temperaturas incomumente baixas e fome generalizada. Um novo estudo sugere que a causa disso tudo pode ter sido uma erupção vulcânica no Alasca. A pesquisa foi publicada nesta segunda-feira (22) nas Atas da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Uma equipe internacional de cientistas e historiadores usou análise de cinzas vulcânicas (tefra), encontradas em testemunhos de gelo no Ártico para vincular o inexplicável período de clima extremo no Mediterrâneo com a erupção do vulcão Okmok no Alasca, no ano 43 a.C. "Encontrar provas de que um vulcão do outro lado da Terra entrou em erupção e contribuiu efetivamente para o desaparecimento dos romanos e dos egípcios e o surgimento do Império Romano é fascinante", disse o autor principal do estudo, Joe McConnell, do Instituto de Pesquisas do Deserto (DRI) em Reno, estado de Nevada. Placa em Roma com a sigla Senatus Populusque Romanus — O Senado e o Povo de Roma Filippo Monteforte/NASA/AFP O advento do Império Romano também pôs um fim à dinastia ptolomaica, a última dos faraós egípcios. "Certamente mostra quão interconectado era o mundo inclusive há 2 mil anos", acrescentou McConnell. Ele e o suíço Michael Sigl começaram a estudar o assunto quando encontraram no ano passado uma camada de cinzas em um estado estado de conservação bom e pouco frequente dentro de uma amostra de gelo. Depois foram feitas medições em testemunhos de gelo na Groenlândia e na Rússia, alguns dos quais foram perfurados na década de 1990 e armazenados em arquivos. Então, conseguiram distinguir duas erupções distintas: um evento poderoso, mas localizado e de curta duração no começo do ano 45 a.C., seguido de um fato muito mais longo e estendido no ano 43 a.C., cujas consequências duraram mais de dois anos. Coincidência perfeita Busto de Julio César, fotografado na França em 2008 Boris Horvat/NASA/AFP Os pesquisadores fizeram uma análise geoquímica em amostras de cinzas encontradas no gelo da segunda erupção e estas coincidiram perfeitamente com o evento Okmok, uma das maiores erupções dos últimos 2,5 mil anos. "A coincidência da tefra não podia ser melhor", disse o vulcanólogo Gill Plunkett, da Queen's University de Belfast. A equipe reuniu mais provas provenientes de outras partes do mundo, de registros climáticos obtidos a partir de anéis de árvores na Escandinávia a formações de cavernas no nordeste da China. Estes dados foram introduzidos em um modelo climático, que sugeria que os dois anos posteriores à erupção foram os mais frios do hemisfério norte em 2,5 mil anos. As temperaturas com médias sazonais podem ter sido até sete graus Celsius abaixo do normal durante o verão e o outono depois da erupção, com precipitações no outono que chegam a 400% do nível normal no sul da Europa. "Na região mediterrânea, estas condições úmidas e extremamente frias durante a primavera agrícola e as temporadas de outono provavelmente reduziram o rendimento dos cultivos e agravaram os problemas de abastecimento durante as turbulências políticas em curso neste período", disse o arqueólogo clássico Andrew Wilson, da Universidade de Oxford. Também coincidiram no fracasso do Nilo para inundar as planícies e as subsequentes ondas de doença e fome, acrescentou o historiador da Universidade de Yale, Joe Manning. Estranhos avistamentos A erupção também pode explicar fenômenos atmosféricos incomuns observados nos registros da época, como halos solares, o sol escurecendo no céu ou três sóis que aparecem no céu, um fenômeno conhecido como um "cão solar". Mas os autores acrescentaram que muitas destas observações ocorreram antes da erupção no Alasca e poderiam estar relacionadas com outra erupção menor, do monte Etna no ano 44 a. C. McConnell sustentou que embora muitos fatores tenham contribuído para a queda da República Romana e o Reino Ptolemaico, a erupção do Okmok teve um papel importante para a sua crise e além disso, agora ajuda a preencher um vácuo de conhecimento que tinha desconcertado os historiadores.

Notícia publicada em: G1.globo.com

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