Indígenas de RO usam aplicativo para calcular custos de produção da castanha


Povo da TI Rio Branco trabalha com a colheita e conta com a tecnologia para somar custos e rendimentos. Safra da castanha-do-brasil é uma das melhores dos últimas 10 anos no estado. Aplicativo auxilia indígenas de Rondônia sobre custos e rendimentos da coleta da castanha. Divulgação Com trabalho diretamente voltado à coleta da castanha, indígenas do povo Rio Branco, em Alta Floresta do Oeste (RO), contam com a tecnologia para produção, custos e rendimento com a venda. Conforme monitoramento feito por pesquisadores da região amazônica, a safra da castanha-do-brasil é uma das melhores dos últimos 10 anos no estado. É o aplicativo Castanhadora, que também auxilia os indígenas na mensuração de todos os gastos dentro da floresta. A ferramenta virtual foi desenvolvida pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil, em parceria com instituições locais. Uma delas é a Pacto das Águas, atuante nas terras indígenas e reservas extrativistas de Rondônia e parte do Mato Grosso. A conexão dos povos da floresta com tudo o que a natureza oferece ainda é preservada entre as sete etnias que vivem em 236 mil hectares. No total, 1.060 indígenas sobrevivem da extração da castanha e do açaí, além do cultivo do café. A preocupação das famílias é manter os ensinamentos tradicionais, mas também abrem espaço para a tecnologia que, com o uso desse aplicativo na terra Rio Branco, por exemplo, já é realidade nas aldeias. "Isso é bem relevante. Geralmente, a gente tinha muita despesa. E agora não. Com o aplicativo, a gente tem a já tem a base de quanto vamos gastar e quanto a gente vai estar lucrando. Essa é uma oportunidade também para os jovens estar trabalhando em cima disso no aplicativo. Então, a gente está se capacitando para capacitar o nosso pessoal e se manter aqui dentro trabalhando", disse Maicon Aruá, tesoureiro da Associação Indígena Doá Txatô. Por meio do Castanhadora, já foi possível fazer o cálculo dos custos para produzir 1 kg do produto: são R$ 2,80. "Quando a safra é boa, não é só na nossa região. Isso implica em todo o estado e a gente acaba tendo concorrência. E em uma safra fraca, a gente consegue um preço melhor. Nesse ano, a gente conseguiu chegar a R$ 3,0 o quilo. E em uma safra média e de pouca produção, a gente já chegou a R$ 5 o quilo", explicou o cacique Edmar Aruá, presidente do Conselho Fiscal da Associação Doá Txatô. Castanhadora: o aplicativo de celular usado na floresta Amazônica Conforme Keli Réggias, técnica do Pacto das Águas, a Empresa Brasileira e Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem se esforçando para conseguir dados da castanha e entender quanto cada região e Rondônia produzem. Mas, segundo ela, "os dados acabam escapando pelas mãos". "Uma das questões é a própria forma de comercialização da castanha. Existem muitos atravessadores, a presença de atravessadores bolivianos e foge do controle. E a gente não consegue mais rastrear a produção a partir do momento que ela sai da governabilidade do castanheiro. Então, se não conseguimos rastrear, não se consegue contabilizar isso com dados de produção do estado", reforçou. Levantamentos feitos na área mostram que na safra 2018/2019 foram colhidas 134 toneladas de castanha. O volume foi retirado nas quatro áreas monitoradas pelo projeto em Rondônia. Cerca de 20 mil castanheiras foram manejadas nas matas do estado. Produção na TI Rio Branco "Nossos antigos aprenderam e hoje nós estamos colhendo o que eles ensinaram. Colhendo para nós essa castanha. O castanhal é importante mesmo. É importante nós zelar dela, cuidar dela, porque ela está dando fruto. Porque se nós não cuidássemos, ela não daria esse fruto para nós. Porque onde eu quebro castanha, onde eu mato ela tudo é tudo limpo. Eu corto cipó, eu limpo os paus dela, ela fica tudo ao redor. E quanto mais você zela ela, ela vai carregar mais. Se não manter e limpar o pé dela, não carrega não", disse Celina Tupari. Celina, que tem 10 filhos e não sabe ao certo sua idade, é a líder do castanhal na terra indígena Rio Branco. Da sede da aldeia até chegar a essa região, é preciso seguir por cerca de uma hora dentro da mata. A estrada aberta pelos indígenas é chamada de pique. O quadriciclo é o veículo usado por eles em período de safra, justamente na época mais chuvosa na Amazônia, que vai de novembro a março. Famílias inteiras acampam nos castanhais por semanas. As mulheres trabalham na coleta de ouriços, bolas que caem das castanheiras quando estão no ponto certo de maturação, na abertura dos ouriços e na seleção dos frutos. "Aqui, a gente vai quebrando, tirando o umbigo. Nós chamamos isso de 'imbigo' da castanha, que também não pode ir. Vai ponhando aqui para tirar o que tiver quebrado, que não pode ir junto, porque senão estraga as outras. Tem as castanhas com coisas brancas que também não pode ir porque ela estraga as outras", detalhou Márcia Aruá, membro do Conselho de Mulheres da Associação Doá Txatô. Indígenas do povo Rio Branco fazem a coleta de castanha em Rondônia. Reprodução/Rede Amazônica Desde 2013, os homens mantém o trabalho de boas práticas na manutenção das centenárias castanheiras. Fazem a roçada das plantas menores que crescem em volta da árvore. O cipó, que faz parte do ambiente natural, é visto como um inimigo e também é retirado. "O cipó é a questão dele subir em cima e ficar todo amarrado na galha e prendendo a floração. E o que que a gente faz? tem que limpar. Cortar o cipó. O cipó vai secar lá em cima, isso vai cair dependendo de onde ele atingir. Vai ficar ruim para catar no ano que vem já. Mas daqui um ano e meio, dois anos, volta tudo ao normal. Já vai estar limpo de novo porque o cipó apodrece. Até a questão do vendo, porque se ela tem muitas outras coisas lá, ela vai ficar pesada lá em cima e o vento arranca ela muito facinho", explicou o castanheiro Galdino Aruá. Na terra indígena Rio Branco, a produção está em alta. No ano passado foram quase 18 toneladas e, agora, a expectativa é passar 70 toneladas. De dentro da floresta, a produção segue ao processo de lavagem feito em um igarapé. Essa deve ser a maior safra dos últimos 10 anos. "Eu quero esse ano, se Deus quiser, acho que vai dar mais do que deu agora, porque a castanha está carregada mesmo. Agora, a gente sai andando no pique para ver e eu sei que tem castanha para o ano que vem", contou Celina Tupari. *Reportagem especial foi feita antes das restrições de distanciamento social impostas por causa da pandemia do novo coronavírus.

Notícia publicada em: G1.globo.com

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